O efeito Cutrim
Editorial do Jornal Pequeno
Cutrim foi o primeiro, mas não significa que será o último. Está, de fato, ficando difícil fazer parte da base aliada de um governo que desponta em fama ruim na imprensa nacional. Um governo marcado por um processo de abuso de poder político e econômico que aguarda julgamento; um governo denunciado à Procuradoria Eleitoral por supostos convênios suspeitos, uso de aeronaves pagas com dinheiro público e construção de banheiros inexistentes.
O efeito Cutrim tende a atingir a bancada descontente de Roseana Sarney, que não é tão pequena quanto imaginam, pois aqui ali se sentem na Assembleia os sinais de que as relações entre Executivo e Legislativo nem sempre são tão cordiais. Já aprovaram, por exemplo, a convocação do secretário da Sedes, Fernando Fialho, e manifestações de bastidores revelaram neste e em outros episódios a presença de grupos descontentes. De sua parte, o governo é um governo apavorado. O governo tem medo da cassação e tem medo do vice-governador; o governo tem medo do presidente da Assembleia, e, para completar, treme de medo da performance eleitoral do candidato Flávio Dino.
Nesse clima, ao deixar a base do governo e anunciar sua filiação ao PCdoB, Cutrim não é apenas um magoado ou raivoso com a perseguição, segundo denunciou, que lhe foi promovida pela Secretaria de Segurança Pública e pelo Sistema Mirante. Como foi auxiliar de Roseana por longos 10 anos, passa a encarnar a dissidência mais histórica do sarneisismo nos últimos tempos, e pode estar encabeçando uma fila de seguidores ainda amedrontados, como aqueles, por exemplo, que acham que a candidatura de Luís Fernando foi uma imposição.
Cutrim, além do mais, conhece por dentro as estratégias eleitorais do grupo Sarney e todo ato contra ele terá o efeito de um bumerangue. Sai do governo na hora crítica em que as pesquisas apontam uma larga vantagem da oposição e analistas políticos nacionais preveem o fim do ciclo Sarney no Estado. A hora crítica em que todos esperam o julgamento de Roseana Sarney no Tribunal Superior Eleitoral e em que avaliam quase todos que se julgamento houver a cassação é inevitável.
A oposição passa a contar, também, com a experiência policial de um deputado que foi secretário de Segurança anos a fio e que saberá, com muito mais propriedade do que Rubens Júnior, Marcelo Tavares, Othelino Neto e Bira do Pindaré, desencavar convênios suspeitos e localizar agentes da corrupção. Além disso, foi um dos deputados mais votados na última eleição, sendo uma liderança considerável e talvez o policial mais respeitado hoje nas polícias civil e militar. A saída do deputado Raimundo Cutrim do governo já era esperada. O difícil agora vai ser o governo se livrar do deputado Cutrim.
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